Sim, Sou Adolescente! Qual é a Crise?

As crises – embora venham sempre acompanhadas de angústias e sensações de catástrofe – não são necessariamente negativas, mas constituem ocasiões de mudanças que requerem algum tipo de solução. A resolução adequada de uma crise tem efeitos benéficos apreciáveis para a pessoa e, além disso, proporciona recursos que a preparam para enfrentar melhor as situações críticas futuras; quer dizer, enriquecem e ajudam a amadurecer. Por outro lado, não enfrentar convenientemente essas situações deixa o indivíduo com maior vulnerabilidade para voltar a cair, quer dizer, fá-lo mais débil ou frágil. Este facto reforça a importância de, com tempo, tomar as medidas para o caso.

Com respeito às crises vitais – as que se desenvolvem ao longo do ciclo vital – quem melhor as estudou e descreveu em detalhe foi Erik Erikson. Segundo este autor, cada etapa da vida, desde o nascimento à morte, tem os seus desafios ou tarefas críticas que devem ser abordadas para melhorar o desenvolvimento. Cada uma possui um potencial de amadurecimento e a necessidade de a partilhar com os outros, assumindo compromissos cada vez mais amplos, que envolvem mudanças, transacções, ajustes e adaptações contínuos, que permitam abrir o leque das respostas possíveis, defendendo o próprio destino. Para Erikson (1959) são oito as etapas do ciclo vital humano, em cada uma das quais há que encarar uma tarefa crítica – expressa em termos de bipolaridades – no âmbito de certas relações significativas que exigem determinadas responsabilidades (“modalidades psicossociais”) e virtudes. Em cada estádio do desenvolvimento ocorre uma crise que deve resolver-se conseguindo um equilíbrio satisfatório entre as alternativas opostas próprias da idade.
Para a faixa etária que andamos estudando, as etapas correspondentes são:
4. Idade escolar (dos 6 aos 12 anos). Neste estádio as crianças aprendem as relações entre a perseverança e o prazer do trabalho terminado. Erikson descreve-o como um sentimento de laboriosidade contra inferioridade. O facto mais importante é o ingresso na escola. O mundo da criança amplia-se consideravelmente, tendo uma grande variedade de actividades a desenvolver, como as académicas, com os colegas e amigos de escola e do bairro. O essencial é que a criança sinta prazer nos seus trabalhos e tenha êxito. O negativo é que apresente dificuldades grandes nos seus afazeres, que o levem a sentir inferioridade. A experiência dentro do grupo de pares é um aspecto fundamental em que é posta à prova a competência. É dentro desses grupos que a criança põe à prova o seu eu e adquire destrezas nas relações com os seus iguais.
5. Adolescência (dos 13 aos 20 anos). A tarefa principal do adolescente é resolver o conflito de identidade versus confusão de identidade. A questão básica é: “Quem sou eu?” Uma definição óptima da identidade, além de promover o bem-estar, revela--se pelo “sentimento de que o corpo é como a própria casa, a ‘sensação de saber onde se dirige’ e a convicção de ser reconhecido de antemão pelas pessoas que interessam” (1968, p. 165). Não conseguir o objectivo leva à “dispersão” ou “confusão”, quer dizer, um estado de desintegração e alienação do eu. A virtude fundamental que surge da crise de identidade é a virtude da fidelidade, isto é, a fé e a lealdade aos seus amigos, companheiros, grupo de valores, uma ideologia ou uma religião. A fidelidade representa um nível mais alto da virtude da confiança; consiste na capacidade de confiar nos outros e em si mesmo. Esta idade é a chave para as etapas posteriores. O indivíduo deve sentir-se seguro e cómodo com respeito ao seu eu antes de estabelecer uma relação íntima e prolongada com outra pessoa.

Mario Pereyra, in http://www.saudelar.com/edicoes/2002/fevereiro/principal.asp?send=psicologia.htm