Para acabar o tema "Adolescência", dois textos de leitura obrigatória para a avaliação. O primeiro, mais formal, mas que tem conceitos fundamentais para perceber os processos implicados na adolescência. O segundo, trata-se de uma provocação que fica a aguardar a vossa análise e comentário. Até jazz.

Adolescência

A adolescência é um período do desenvolvimento humano que se estende, aproximadamente, dos 10 aos 19 anos de idade (segundo a OMS), caracterizado por uma revolução bio-psico-social. É um período de grande crescimento e transformações, onde tudo é vivido intensamente.


Durante este período de transição do estado infantil para o estado adulto, o jovem geralmente apresenta comportamentos instáveis, variando as suas acções e opiniões, num "experimentar" que o levará à definição de sua identidade (tarefa básica desta fase). O adolescente deve definir sua identidade em três níveis: sexual, profissional e ideológico.


Durante este processo, ele poderá adoptar diversos tipos de identidades, de acordo com novas aquisições, diante de situações novas ou em função do grupo circunstancial ao qual está ligado. Estas várias identidades alternam-se ou coexistem num mesmo período, reflectindo a luta do jovem pela aquisição do eu e definição da identidade adulta.


O crescimento, nesta fase, é rápido e desproporcional. Os membros alongam-se, o corpo emagrece, os ângulos salientam-se. As mudanças bruscas não permitem uma adaptação harmónica ao processo. O adolescente não só se sente desajeitado, como é desajeitado, por regular mal o domínio do corpo ao qual ainda não se adaptou.

As mudanças biológicas trazem conflitos e a necessidade de adaptação. Essa adaptação deve ser interna e externa. Ao crescer brusca e rapidamente, o jovem passa a ter que se baixar para passar em certos lugares, a ter cuidado para não bater nas coisas, etc. Por outro lado, às vezes envergonhado ou em conflito por causa do seu novo corpo, o adolescente passa a tentar disfarçá-lo, atrás de roupas largas e compridas, ou, até mesmo, atrás de uma obesidade, que deixa o corpo "assexuado", pois a gordura age como uma capa, não permitindo que se identifiquem as características sexuais.


As modificações corporais, o aparecimento de pêlos púbicos e axilares, o aumento da força muscular, a distribuição da gordura, a mudança da voz, o desenvolvimento dos seios ou do pénis, a menarca, a primeira ejaculação e a masturbação, são elementos que exteriorizam as mudanças internas com os reflexos sobre a vida afectiva e emocional dos jovens. Ou seja, o corpo permite que o adolescente visualize, se aperceba, das mudanças psicológicas que também estão a ocorrer.


Todas essas mudanças trazem perdas. Ao crescer e desenvolver-se, o adolescente fica colocado diante de três lutos principais:

  1. Luto pelo corpo infantil: o corpo transforma-se e adquire uma nova forma. Isto é incontrolável e independente da sua vontade. O jovem sente-se impotente diante do poder das alterações que vem sofrendo e, ao mesmo tempo, deseja esse porvir.
  2. Luto pelo papel e identidade infantis: o adolescente perde os privilégios e a condição de criança, que darão lugar a novos aspectos. Perde as coisas relacionadas ao "ser criança".
  3. Luto pelos pais da infância/imagos parentais : o adolescente percebe que não terá mais a segurança dada pelos pais durante a infância. Ao mesmo tempo, vai descobrindo que os seus desejos e ideias não são concordantes com os dos pais, e sente remorso em assumi-los pelo temor das consequências (entre elas, a perda dos pais da infância).


Além de tudo isto, o crescimento físico traz consigo novidades (dúvidas, ansiedades, vontades), desencadeando, também, uma desestabilização da auto-estima que pode gerar medo, angústia, conflito e vergonha (por falta de informação sobre estas transformações). Contudo, este processo de crescimento corporal não traz só perdas. O adolescente ganha força, a possibilidade reprodutiva e sexual, e uma imagem corporal mais próxima à do adulto.


Além do processo de mudanças e transformações, a adolescência tem mais algumas características gerais marcantes:

  • tendência grupal: o grupo dá segurança ao jovem; ajuda-o a configurar-se; nele, todos se identificam uns com os outros; há transferência de parte da dependência familiar para o grupo; ajuda a vivenciar, na prática, o exercício do bem e do mal (experienciar a crueldade e violência, a culpa dissolve-se no grupo);
  • necessidade de intelectualizar e fantasiar: provocada pela vivência dos lutos, serve como forma de reparar a angústia das perdas;
  • desestruturação corporal: o adolescente imobiliza o tempo, tentando preservar as conquistas passadas e apaziguar as angústias relacionadas ao futuro;
  • atitude social reivindicatória;
  • constantes flutuações do humor e estado de ânimo;
  • comportamento impulsivo, rebelde, critico, arrogante;
  • desafio à autoridade dos pais;


Gabrielle Lanzetta Haack

Psicóloga




PARA ACABAR DE VEZ COM A ADOLESCÊNCIA


Não se percebe como é que sociedades pretensamente civilizadas persistem em contemporizar com esse costume bárbaro que dá pelo no nome de adolescência.

Durante esse período de transição, crianças adoráveis soltam-se dos colos das mães, largam os jogos inocentes e transformam-se subitamente em selvagens intratáveis que ganham acne, caspa e má educação. Repudiam os papás, os vóvós e os titios que os levavam aos desenhos animados, ao rinque de patinagem e ao jardim zoológico, e passam a acamaradar com gangues de desordeiros que escorropicham cervejolas e fumam ganzas pelas esquinas.

Todos, sem excepção, se transformam em delinquentes juvenis. Os mais cordatos atêm-se à fornicação descontrolada, os outros insultam os velhinhos que os empatam na bicha do Multibanco, roubam os telemóveis aos professores, empenham as pratas da família para comprar o produto, aceleram nos sinais vermelhos, espancam membros isolados de claques rivais, arremessam garrafas de Coca-Cola sobre a plateia do cinema, picham as carruagens do Metro, organizam corridas de mota em jardins repletos de crianças, furam os pneus à vizinhança, fogem das bombas de gasolina sem pagar ou criam blogues anónimos onde podem escrever ordinarices à vontade e postar videos que mostram as namoradas a fazer strip-tease ao som do “é o bicho, é o bicho”.

Leis utópicas (para não dizer totalitárias) forçam estes energúmenos a frequentarem escolas públicas onde são obrigados a permanecerem diariamente sentados durante horas escutando condenados às galés a arengarem sobre temas tão irresistíveis como o teorema de Pitágoras ou a lei de Boyle-Marriott. Tendo em conta que toda a sexualidade reprimida mergulhada numa banheira de água gelada sofre uma impulsão de baixo para cima igual à massa do líquido deslocado, só admira que em 2007 não se tenha registado nas escolas portuguesas um único caso de canibalismo comprovado.

Pretendem alguns sábios que o problema se resolveria acorrentando os animais às carteiras das salas de aula. Outros, de inclinação mais humanista, exigem a expropriação dos telemóveis, a reintrodução dos castigos corporais, o armamento dos professores, a colocação no pelourinho dos reincidentes ou o arrasamento das residências familiares. Sem esquecer, claro está, a revisão da Constituição para viabilizar essas medidas caridosas.

Estão todos errados. A praga que nos aflige – lamento dizê-lo – só poderá ser definitivamente erradicada proibindo de uma vez por todas a adolescência, essa chaga social com que todos há demasiado tempo pactuamos, nem que para isso seja necessário abolir a causa última do mal, ou seja a procriação. Talvez se trate de uma medida impopular, mas, dentro de alguns anos, ao escutarmos o silêncio que então reinará nas nossas ruas e nas nossas escolas, até os mais renitentes reconhecerão que essa terá sido, efectivamente, a melhor decisão.


Publicada por João Pinto e Castro (vénia) em

http://blogoexisto.blogspot.com/2008/03/o-flagelo-da-adolescncia.html